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Antes do Início - Parte II


“Certa vez um amigo do Davi, meu esposo, disse uma frase: “ Não posso dizer que estava no fundo do poço, pois no fundo do poço ainda é possível encontrar água limpa”. Era uma frase tão intensa e verdadeira, e fez todo o sentido para mim naquele momento. Não tinha outra coisa que me definisse tão bem. Eu estava muito mais abaixo do que chamam “fundo do poço”, essa era a sensação que eu tinha.
Naquela noite, do dia 30 de março, chegamos do mercado, próximo das 21:00hrs, o Davi estacionou o carro na garagem e, como de costume, começamos conversar ainda dentro do carro. Não lembro-me exatamente sobre o que, mas após alguns minutos, de alguma forma acabamos tocando na minha ferida, na minha velha companheira de jornada, a minha dor.
Depois de algum tempo, provavelmente quase uma hora depois, saímos, fechei a porta do passageiro onde eu estava e me encostei no carro. Eu sentia literalmente que estava sufocando por causa daquela dor que eu estava sentindo, não conseguia respirar direito. Puxei o máximo de ar que pude para tentar aliviar aquela pressão que estava no meu peito, mas nada adiantou.
O Davi deu a volta no carro e pacientemente, como sempre foi comigo, começou a me falar sobre Jesus (quem o conhece sabe que esse é o assunto preferido dele), sobre como eu deveria confiar mais em Deus. Sinceramente, não consegui ouvir muita coisa, porque eu sentia que a minha vida estava se esvaindo aos poucos. A única coisa que eu conseguia falar era: “ Eu não tenho forças! Eu não aguento mais!”. Não lembro quantas vezes repeti essa frase, mas cada vez que ela saia da minha boca, parecia que rasgava meu peito.
Depois de alguns minutos entramos em casa, eu fiz algumas coisas e fui me deitar. Comportamento típico que eu tinha quando sentia que não estava muito bem. Me deitava antes de todo mundo para poder chorar sozinha e assim acabava adormecendo.
Meus dias se resumiam praticamente na esperança de que a noite chegasse logo para que eu pudesse enfim deitar e dormir, que era o único momento em que eu não podia sentir aquela tristeza profunda; quando deitava, torcia para que aquela noite durasse eternamente.
No dia seguinte, acordei ainda com aquela sensação horrível dentro de mim. O Adrian foi para a escola, o Davi para o trabalho, e eu não sabia mais o que fazer para tentar fazer com que aquele sofrimento parasse. Eu apenas queria que meu sofrimento sumisse, sabe, assim como num passe de mágica. Mas não foi assim!
Em um determinado momento do dia, sabendo que eu estava já além do meu limite, decidi que tinha que fazer algo a respeito. Precisava desesperadamente fazer com que aquela dor cessasse. De qualquer maneira, a qualquer custo.
Foi então que tive a ideia de escrever. Isso mesmo: Escrever! Desde menina sempre tive muita dificuldade em me expressar, falar sobre meus sentimentos, então eu os escrevia. Às vezes quando, ainda criança, brigava com alguém ou acontecia alguma coisa diferente, eu me trancava no quarto, subia em alguma árvore, me escondia no meio das plantações de couve na horta, e escrevia, escrevia e escrevia…até minha mão doer e não aguentar mais. Depois eu me sentia mais calma, mais aliviada e podia enfim voltar ao mundo “real”.
Geralmente não conseguia explicar para meu esposo como estava me sentindo, não porque ele não entendesse, mas simplesmente me faltavam palavras; não sabia falar sobre meus sentimentos, então eu escrevia cartas.
Nesse dia não foi diferente, decidi escrever para que de alguma forma, ele pudesse entender o que eu estava sentindo. Eu precisava que ele me entendesse, pelo menos ele. Mesmo que todos ao meu redor não compreendessem, de alguma forma, na minha cabeça, eu tinha que colocar para fora toda aquela dor e tinha que fazer com que ele estivesse a par de tudo.
E assim foi. Escrevi uma “pequena” carta com nada menos do que seis páginas. Nessas páginas estavam relatadas o quão miserável eu me sentia, o quão injustiçada eu fui, o quão abandonada eu era. Descrevi como as pessoas me odiavam, como eu sentia o olhar de desprezo delas todas as vezes que olhavam para mim, como sempre fui considerada a “ovelha negra da família”, entre muitas outras coisas extremamente degradantes que eu dizia sobre mim mesma.
À noite, quando meu esposo chegou do trabalho, a primeira coisa que fiz foi ter a certeza de que agora ele poderia enfim ter uma leve noção da dor que eu trazia dentro de mim. Então logo lhe apresentei a “cartinha” e fiz questão de estar ali ao lado dele enquanto ele lia aquelas “breves” palavras. Ele, claro, paciente como sempre, leu tudo sem fazer um comentário sequer durante a leitura.
Depois de terminar a leitura que, hoje reconheço, não deveria estar nada agradável, não digo nem por conta das tantas páginas, mas pelo peso das palavras que trazia dentro delas; ele juntou todas aquelas folhas na mão, olhou nos meus olhos e disse: “ Isso tudo o que você escreveu aqui é apenas como você se enxerga. Não é verdade!”.
Aquilo foi como um soco na boca do meu estômago, senti no mesmo instante, o mais profundo do meu ser desabar. Foi como se tivessem me atirado num rio com um peso de uma tonelada preso aos meus pés. Na minha cabeça, não conseguia entender como a única pessoa no mundo em quem eu poderia confiar, não pôde me entender, ainda mais depois de tudo o que eu escrevi, depois de tentar de todas as formas possíveis explicar o que havia no meu âmago.
Ele continuou me falando que eu não era daquela forma que eu tinha descrito, que as pessoas não me odiavam como eu tinha falado ali. Tentou me convencer de que eu teria que tentar me ver como Deus me enxergava e não daquela forma distorcida. Mas você acha que adiantou???? Claro que não! Eu estava completamente cega.”

Bem … essa foi a segunda parte da história. Estou dividindo ela para que não fique muito cansativa a leitura.
Continuamos em nosso próximo encontro!! Não deixe de ler o desfecho dessa história, que foi o início do meu Processo de Cura.

Que Deus te abençoe sempre.


Data: 09-02-2025 14:02
Autor: Nene

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